sábado, 29 de setembro de 2012

Área ardida este ano é das mais elevadas dos últimos sete

Um quinto do total da área consumida pelo fogo ocorreu fora de época – mais precisamente nos meses de Fevereiro e Março. 24 de Fevereiro foi o dia do ano com mais incêndios: 341.

A área ardida em Portugal em 2012 ficou acima das metas traçadas pelo Governo: mais de 110 mil hectares – mais 150% do que no ano passado – e foram registados mais de 20 mil incêndios – mais 26% do que em 2011.

A fase “Charlie” do combate a incêndios, que cruza os três meses críticos do Verão, termina no domingo e o balanço feito pela Renascença concluiu que o número de incêndios registados coloca 2012 como o pior dos últimos sete anos.

Estes valores, embora fiquem muito longe dos registados nos anos trágicos de 2003 e 2005, devem ser considerados maus, desde logo, porque já ultrapassam a meta de 100 mil hectares ardidos, traçada pelo Plano de Defesa da Floresta como limite anual aceitável.

Mas o ano fica marcado por dois outros indicadores. Por um lado, um quinto do total da área consumida pelo fogo ocorreu fora de época – mais precisamente nos meses de Fevereiro e Março – sendo, aliás, elucidativo o facto de 24 de Fevereiro ser o dia do ano com mais incêndios: 341.

Por outro lado, as autoridades notam um aumento de cerca de 10% nos incêndios com origem negligente, que são este ano metade do total, e uma diminuição para 17% nos casos de fogo posto intencional. Entre estes casos, cerca de 30% continuam sem conclusões policiais.

Esta época de incêndios fica também marcada pelo registo de sete mortos - quatro bombeiros, dois militares da GNR e um civil -, pelo regresso dos grandes incêndios com mais de um dia (às vezes até quatro dias, como o maior de todos, no Algarve) e pelo regresso da ajuda internacional, nomeadamente, com aviões franceses e espanhóis a actuar em território nacional.

Unânime entre as explicações que se ouvem para estes resultados está um outro factor, seguramente mais invisível: o ambiente de reforma generalizada no sector da Protecção Civil, já previamente anunciado pelo Governo para Outubro e que parece ter introduzido bastante areia numa engrenagem que se vem mantendo inalterada desde o primeiro mandato de José Sócrates.

É urgente uma estratégia e um planeamento para a floresta A Liga dos Bombeiros considera que os resultados dos fogos deste ano merecem uma resposta do Governo.

O presidente, Jaime Marta Soares, fala num ano exaustivo para os bombeiros, ensombrado por quatro mortes, e com dificuldades de toda a ordem. “A nossa floresta está maltratada, sem planeamento, sem prevenção. É um contínuo espaço de combustível altamente inflamável, que torna muito difícil a intervenção das forças de combate. Há necessidade de o país encarar, de uma vez por todas, que os fogos evitam-se, não se combatem”, apela, em declarações à Renascença.

“Fazer-se muita prevenção, limpeza de estradas e caminhos, balsas de água, helipistas, heliportos. Fez-se muita coisa neste país, mas há cerca de 20 anos a esta parte paralisou totalmente. Não há estratégia nenhuma de planeamento, de prevenção, e o que é mais grave é que sabemos que há dinheiro de verbas comunitárias para aplicar serem aplicadas, precisamente, na agricultura e na floresta”, lamenta.

A Renascença procurou também um comentário do Ministério da Administração Interna, mas o Governo não quer fazer comentários para já.

Fonte: Rádio RR