terça-feira, 29 de setembro de 2009

Despiste mata bombeiros a caminho de incêndio


Iam ajudar a combater um dos vários incêndios que ontem deflagraram em Fafe. A poucos quilómetros da saída da A7, onde iriam abandonar a auto-estrada, rebentou um dos pneus do jipe em que seguiam os cinco elementos dos Bombeiros Voluntários de Esposende. O veículo resvalou vários metros em cima dos railes laterais de um viaduto, acabou por os galgar e despenhou-se numa vala, mesmo ao lado da A7, entre Guimarães e Fafe. Três dos bombeiros tiveram morte imediata e dois ficaram feridos com pouca gravidade.
Entre as vítimas mortais está Paulo Lachado, proprietário da sucata Servipeças, em Esposende. As outras duas vítimas, José Pedro Torres e Pedro Sousa, são residentes na freguesia de Belinho e na cidade de Esposende.
O acidente aconteceu cerca das 17h00, no viaduto da A7 em Serzedo, Guimarães, que passa por cima da Estrada Nacional 101. O choque no talude foi de tal forma violento que o Veículo Rural de Combate a Incêndios em que seguiam os bombeiros ficou totalmente desfeito. Na A7, ao quilómetro 48, a recta onde começou o despiste ficou com um rasto de pequenos bocados de borracha do pneu que rebentou.
No chão eram ainda visíveis as marcas de travagem que o condutor, que teve morte imediata, fez. O jipe acabou por esmagar o raile lateral e dobrar por completo o corrimão do viaduto, antes de ser projectado para o talude. Se o veículo tivesse caído do viaduto para a estrada nacional que liga Felgueiras a Guimarães, com uma altura de cerca de 15 metros, poderia ter sido fatal para os dois sobreviventes.
“É uma tragédia para nós, um momento muito difícil para todos”, disse ao CM Juvenal Campos, comandante dos voluntários de Esposende, quando ontem à noite estava à porta das Urgências do Hospital de Guimarães. O ambiente era de consternação, com vários bombeiros sentados de cabeça baixa no exterior do edifício.
No quartel vivia-se um ambiente de pesar, com bandeira a meia haste. Ao que o CM apurou, desde o momento em que a notícia da tragédia chegou, os serviços dos voluntários passaram a ser assegurados pela vizinha corporação de Fão, também em Esposende.


PORMENORES


FERIDOS
Um dos dois bombeiros feridos teve alta ontem à noite. Glória Alves, do Hospital de Guimarães, informou que o homem tem escoriações na face e corpo. O segundo está 'mais queixoso', mas sem fracturas ou ferimentos graves.


APOIO PSICOLÓGICO
A Câmara de Esposende enviou psicólogos a casa dos familiares das vítimas de forma a prestar o apoio necessário. Um dos bombeiros mortos residia em Belinho, enquanto que os outros dois viviam na cidade de Esposende. O presidente da câmara deslocou--se ainda ao hospital para prestar solidariedade às famílias.


ACIDENTE AO CHEGAREM A FAFE
O despiste ocorreu numa recta da A7, no sentido Guimarães/Fafe, ao quilómetro 48. O jipe ficou imobilizado num talude junto à auto-estrada, na pequena freguesia de Serzedo, em Guimarães, que faz fronteira com o vizinho concelho de Fafe, no distrito de Braga.


MULTIDÃO ASSISTIU AO RESGATE DAS TRÊS VÍTIMAS MORTAIS
O aparatoso acidente que vitimou os três bombeiros mobilizou para o socorro 47 homens e 22 carros de três corporações: Felgueiras, Lixa e Guimarães. Os elementos do Destacamento de Trânsito da GNR de Fafe também estiveram no local e, por várias vezes, tiveram de alargar o perímetro de segurança tal era a quantidade de curiosos que aparecia. Na Estrada Nacional 101, que liga Guimarães a Felgueiras, debaixo do viaduto onde estavam a decorrer as operações de socorro, acotovelavam-se adultos, crianças e até bebés levados pelos pais. Muitos deles não hesitaram em tirar fotografias e filmar toda a situação, o que obrigou a GNR a alargar o perímetro de segurança para impedir a captação de imagens aquando do transporte dos três corpos para as ambulâncias. Mais de duas horas após o acidente, uma retroescavadora pôde finalmente começar a remover as peças o jipe dos Voluntários de Esposende, que ficou completamente destruído.


DISCURSO DIRECTO


'O ÚLTIMO ACIDENTE MORTAL TINHA SIDO EM 2006', Duarte Caldeira, Presidente da Liga dos Bombeiros
Correio da Manhã – A morte dos três bombeiros de Esposende veio ensombrar a época de combate aos fogos florestais?


Duarte Caldeira – É um acidente que altera o quadro da sinistralidade. Apesar de este ano ter sido um ano anormal de incêndios, não havia registo de bombeiros mortos ao serviço. O último acidente rodoviário com vítimas mortais tinha ocorrido em 2006.


– Que quer dizer com 'ano anormal de incêndios'?


– O número de fogos registados desde o início da segunda quinzena de Setembro, por exemplo, não tem paralelo com o período homólogo desde 2005. Por outro lado, neste ano verificou-se uma quantidade anormal de incêndios provocados, com grande concentração ao fim-de-semana e a começarem durante a noite.


– A maioria dos fogos florestais tem deflagrado no Norte do País. Isso tem exigido um esforço acrescido às corporações?


– Sim, tem havido um esforço enorme por parte dos bombeiros e começa a notar-se algum cansaço.


– Quando isso acontece há a preocupação de gerir os meios para evitar a exaustão?


– Julgo que sim, mas gostaria de analisar primeiro o que se passou neste acidente antes de responder a essa questão.


– Há seguros para apoiar as famílias das vítimas?


– Os bombeiros têm seguro de acidentes pessoais, que é pago pelas câmaras municipais. E a Liga já se colocou à disposição da corporação e dos familiares dos bombeiros para prestar assistência.


– Como é que se recupera o moral de uma corporação após uma tragédia destas?


– Com grande unidade e capacidade de liderança. É sempre um momento doloroso, porque os que partiram são pessoas jovens e há uma relação de amizade e proximidade muito forte entre todos os elementos da corporação. Pode demorar algum tempo.


Fonte: CM