terça-feira, 29 de junho de 2010

O caminho é ganhar dinheiro com a floresta


Ganhar dinheiro. É este o principal desafio que se coloca à floresta portuguesa que, no entender do presidente da Autoridade Florestal Nacional (AFN), já dispõe de instrumentos de planeamento suficientes. Só precisa de ser “vivida”, até para evitar os incêndios.

O número de fogos e de área ardida até 15 de Junho – um total de 2439 ocorrências e de 2700 hectares, contra 8064 e 19241 hectares no mesmo período do ano passado – é animador. Mas Amândio Torres, presidente da Autoridade Florestal Nacional (AFN) não gosta de “embandeirar em arco” nas questões dos fogos florestais e prefere um discurso de prudência: “Todos temos de ter a noção de que vivemos num barril de pólvora. Esta é que é a realidade”, disse, em declarações ao JN, insistindo que “é preciso ter muito cuidado porque vivemos num ambiente explosivo. É como acender um cigarro numa bomba de gasolina”.

Em vésperas de o país entrar no período mais crítico de incêndios – a fase Charlie, que arranca quinta-feira – o responsável apela a que se evitem os comportamentos “negligentes” na floresta. E lembra que cerca de um terço dos incêndios tem origem em pequenos descuidos, porque “as pessoas não têm cuidado”. “Há um conjunto de coisas que não se podem fazer na floresta nesta altura”, diz, como todo o tipo de fogo ou simplesmente “ir para o mato trabalhar com uma máquina que possa libertar faíscas e pegar fogo ao feno”.

O responsável reconhece que “este início de Verão está a ser mais favorável porque há mais humidade”, mas insiste que a “chave do sucesso” para a redução dos fogos florestais em Portugal está em “diminuir o número de ocorrências e em ter uma grande velocidade na primeira intervenção”. E também em fazer com que o território seja “mais vivido” e tenha “mais valor”. Caso contrário, “pode deixar-se arder tudo”.

Amândio Torres põe a tónica no valor da floresta. “O índice de perigosidade é reduzido em função de quanto mais vivido for o território. Gerir o território é estar lá, viver, acompanhar e ter valor. Se a floresta não tivesse valor, poderia arder tudo. A solução está em ir viver a terra. Terra vivida é terra protegida”, defendeu, insistindo que o caminho de futuro para a floresta portuguesa está em “criar riqueza”.

O presidente da AFN garante que “há poucos sectores no país que tenham tantos instrumentos de planeamento e de ordenamento como o florestal”, pelo que o desafio que agora se coloca é o de dar incentivos à gestão. E que, em sua opinião, têm de deixar de passar tanto pelos subsídios e mais por outro tipo de iniciativas, como os incentivos fiscais para quem cuidar e tratar bem do seu território. “Sou defensor das medidas fiscais para dar o ‘click’ que a floresta portuguesa precisa”, diz, garantindo que em Portugal há indústria e saída para o produto.

Confrontado com as críticas recorrentes de falta de limpeza dos terrenos – que este ano foi bastante condicionada, devido ao prolongamento do período das chuvas –, Amândio Torres lembra que Portugal tem 5,5 milhões de hectares de espaços silvestres, dos quais 3,5 são floresta. “Não é possível limpar todo o combustível, até porque o mato faz parte do ecossistema”, diz, insistindo que “seria humana e financeiramente impossível fazer essa retirada”.

O presidente da AFN elogia o facto de Portugal ter algo “único” que é a dispersão de mais de 400 corpos de bombeiros no território e garante que o dispositivo de combate a incêndios é adequado e “muito bem estruturado”, suscitando inclusive o interesse de outros países. O facto de ter passado a haver uma directiva operacional que pôs “todas as entidades a trabalhar de forma convergente” foi, em seu entender, o “ovo de colombo” para a redução da área ardida nos últimos anos.

Fonte: JN