segunda-feira, 15 de março de 2010

"Agora é esperar que o rio liberte o corpo"




Fracassou a megaoperação para encontrar o corpo de Leandro no Tua, realizada a partir de Mirandela e num raio de 45 km. Às 12.30 de ontem, quando terminou, a desilusão estava estampada no rosto do seu responsável, Melo Gomes, que está convicto de que o corpo se encontra nas margens do rio.

"Apesar de colocarmos parte do rio com leito de Verão [mais baixo] e de termos mais uma hora do que o previsto com as comportas fechadas, infelizmente, as buscas foram infrutíferas. O troço do rio até à foz é muito irregular, tem muitos detritos e é muito sinuoso", justificou Melo Gomes. Mas põe de parte a hipótese do corpo da criança ter chegado ao Douro: " O Tua tem umas margens muito densas e pode estar preso nas raízes."

E à falta de outros argumentos, o comandante do Centro Distrital de Operações e Socorro (CDOS) de Bragança apela à convicção de transmontano: "Corpo que caia ao Tua, não sai. E, até hoje, os que se afogaram no Tua foram sempre recuperados no seu leito." Está convicto de que o corpo se encontra a um ou dois quilómetros do local onde de terá atirado à água.

Segundo Fernando Campota, da força especial "Os Canarinhos", os bombeiros mergulhadores, há vários factores a ter em conta, desde logo o facto de ser um corpo de criança e de mais facilmente poder passar as comportas da barragem. "No desastre de Entre-os-Rios, também se dizia que os corpos das vítimas não podiam estar longe e foram aparecer em Espanha", exemplifica.

A hipótese de o corpo se encontrar perto do sítio de onde Leandro se terá atirado é a de ter ficado preso às margens ou ao fundo do rio. Caso contrário teria flutuado ao fim de três a cinco dias, quando o corpo inicia a decomposição e incha, explica Fernando Campota.

A grande operação para encontrar Leandro, de 12 anos, que desapareceu a 2 de Março no rio Tua junto ao açude, envolveu 125 homens. As buscas iniciaram-se às 09.00, altura em que foram encerradas as comportes do açude de forma a baixar o caudal do rio, e terminaram perto das 12.30. O Tua foi passado a pente fino desde Mirandela até à foz, numa extensão aproximada de 45 quilómetros.

Melo Gomes afirmou ao DN que aquela foi a última grande tentativa para resgatar o corpo. Agora, "é esperar que o rio liberte o corpo", diz o comandante do CDOS de Bragança.

Os pais de Leandro chegaram ao local das buscas a meio da manhã. Amália Pires, a mãe, diz ter perdido a esperança: "Se não apareceu hoje, já não aparece". E acrescenta: " A dor é muita e os responsáveis vão ter de pagar pela morte do meu filho."

Maria Gabriela, vereadora da Educação da Câmara de Mirandela, está intrigada com o facto "das crianças terem saído da escola em horário escolar". E salientou que nunca os responsáveis da escola Luciano Cordeiro, onde o adolescente estudava, "reportaram problemas de violência entre alunos".

Leandro está desaparecido há 14 dias e, e segundo relatos de primos e irmão gémeo, ter-se-á suicidado por ter sido agredido várias vezes por colegas.

Fonte: DN