quinta-feira, 29 de julho de 2010

Estão há dias a fio na frente de fogo, com a roupa colada ao corpo, alimentados a sandes, bebem poucos líquidos e dormem muito pouco. Quando pedem reforços a resposta é a mesma há dias: "Não há." As rotações não estão a ser feitas e há bombeiros que chegam a estar 24 horas na frente de fogo. Mal alimentados e sem descanso, os operacionais dão sinais de exaustão.

Desde que há uma semana começou a aumentar o número de fogos, nos quartéis, o serviço é feito em regime non stop. Um bombeiro de Oliveira de Frades, que por razões disciplinares prefere o anonimato, contou que foi chamado para um incêndio na segunda-feira, onde esteve "até terça à noite", altura em que "dormiu cinco horas. Às 7.00 de ontem estava de novo na frente de fogo".

Em Cabanas de Viriato outro bombeiro adiantou que "desde segunda-feira que dormir é no carro, quando se pode. Alimentação são umas bifanas, quando as mandam, e sumos". Em Vila Nova de Paiva as queixas são iguais. "Chegámos ao fogo de Carregal à hora de almoço e a primeira alimentação chegou perto da meia-noite."

"A falta de descanso, para recuperação, faz aumentar o risco de acidentes", alerta o presidente da Associação Médicos de Emergência. Para que o bombeiro suporte tantas "horas na frente de fogo são precisos alimentos e água para evitar a desidratação", adianta Vítor Oliveira. "É preciso uma logística, que forneça líquidos, alimentos, um período mínimo de descanso e condições de higiene." E quando o fogo demora mais de 12 horas a ser extinto, "o tempo máximo para estar numa frente de fogo", alerta, "tudo piora".

"Cada corporação tem em média duas dezenas de operacionais que aparecem sempre à chamada e que estão na primeira linha", contou ao DN uma fonte do Comando de Operações de Socorro de Viseu. A grande maioria destes bombeiros "não é rendida, por falta de efectivos, e acumula horas na frente de fogo". E após "pequenos períodos de descanso voltam novamente ao teatro de operações porque todos os meios disponíveis estão empenhados e não chegam", concluiu.

A Protecção Civil, que comanda os bombeiros, não impõe tempos máximos nas escalas de serviço ou nas frentes de fogo. Em muitos quartéis, onde a dificuldade de mobilização é maior, as escalas ostentam o mesmo nome dias seguidos. Uma realidade que é confirmada pelo comandante dos Bombeiros de Poiares e responsável pela protecção civil na Associação Nacional de Municípios. "Quem se esforça são os bombeiros, que estão na primeira linha e têm que acudir a todas as situações". Jaime Soares lembra que o actual sistema "está mal planeado, não equacionou rendições de homens, nem substituição de equipamentos". "Gastam-se milhões numa estrutura paralela que não se vê na frente de fogo", acusa, apontando o dedo à Protecção Civil. O DN pediu esclarecimentos à Protecção Civil que não foram prestados.

Por outro lado, nos incêndios vêem-se bombeiros sem capacete, luvas e semas botas especiais. Nas viaturas o panorama é pior. Apenas as equipas de primeira intervenção estão devidamente equipadas e isso não acontece em todas as corporações. Apenas estão equipados cinco mil bombeiros "da primeira linha", cerca de metade, afirmou Duarte Caldeira, presidente da Liga de Bombeiros.

Fonte: Diário de Notícias