quarta-feira, 21 de abril de 2010

Bombeiros recebem mulheres no quartel ao fim de 75 anos


Doze recrutas femininas chegaram à escola de bombeiros dos voluntários de Vila Nova de Cerveira. É a primeira vez que a corporação abre portas a mulheres, apesar de há muito elas aspirarem a ser bombeiras. É a única corporação do distrito sem mulheres.
Com a inauguração de um novo quartel em 1 de Outubro de 2009, dia que aliás passou a designar-se Dia do Bombeiro no município, a corporação de Vila Nova de Cerveira inaugurou também uma nova era na sua história, com 75 anos. Com 60 elementos, todos homens, a corporação que até ali não tinha condições para mulheres, passou a ter instalações apropriadas para as poder receber. E porque já haveria até uma espécie de lista de espera, ao serem abertas inscrições para uma nova formação, dos 23 inscritos, 12 são mulheres. A instrução já está a decorrer e o JN visitou o quartel no dia da primeira aula em sala.
Carina Neiva, 18 anos, uma estudante residente em Campos, Vila Nova de Cerveira, foi das primeiras a inscrever-se na formação que está a decorrer no quartel da vila. "Desde miúda que os bombeiros me cativavam imenso. Estou a adorar estar aqui e, para mim, ser bombeira é o máximo", esclarece, explicando o que a levou a dar o passo: "Foi a vontade de ajudar e sentir-me útil à comunidade. Quem é bombeiro tem sempre a mesma ideia e a mesma motivação que é ajudar os outros".
Sobre a forma como a sua decisão está a ser encarada por quem a rodeia, a jovem recruta comenta: "Os colegas que não são bombeiros dizem que isto não é para nós, que daqui a um mês desistimos, que só ficamos aqui duas ou três semanas, mas nós mulheres conseguimos provar que somos muito melhores do que o que dizem. Há ainda uma certa mentalidade de que isto é só para homens, mas de pessoas que não são bombeiros, porque aqui os homens têm-nos aceitado muito bem".
E a verdade é que todos os da única corporação do distrito de Viana do Castelo que ainda não tinha mulheres entre os bombeiros, se mostram animados com esta nova possibilidade. "A experiência de outros corpos de bombeiros diz-nos que as mulheres vêm sempre dar um contributo importante às corporações, em todos os aspectos. Ao contrário do que se possa imaginar, elas vêm impor respeito", considera Rui Cruz, o comandante dos voluntários de Vila Nova de Cerveira.
350 horas de aulas
Aos sábados, a partir de agora, os 23 novos recrutas irão receber instrução até completar as 350 horas impostas por lei. "Quando soube que tinham aberto inscrições, inscrevi-me logo. Já há muito tempo que queria isto. Vejo-me bem no papel de bombeira", conta Inês Encarnação, 17 anos, residente em Vila Nova de Cerveira, resumindo em poucas palavras o que a impeliu a inscrever-se: "A família toda bombeira, ou quase. Pais, tios, primos...".
Ainda na recruta, Inês é uma de muitas e muitos jovens que não prescindem de dar continuidade a uma tradição familiar. "O que me trouxe cá é que o meu pai, o meu padrinho e o resto da família são bombeiros", afirma Luís Santos, um novo recruta de 18 anos, também residente em Vila Nova de Cerveira, que não poupa elogios às suas companheiras de formação. "Todos somos úteis, tanto sejam homens como mulheres. Elas são boas colegas e podem dar boas bombeiras, porque as mulheres são mais úteis que os homens em alguns aspectos e comportam-se melhor que nós", diz, arrancando risos às futuras soldados da paz.
Peruana conheceu português na Net, casaram e estão ambos na corporação
Conheceram-se num fórum de bombeiros na Internet há cerca de quatro anos e acabaram por casar. Uma bombeira e bióloga peruana forma, hoje, casal com um bombeiro estudante universitário de Geografia, natural de Vila Nova de Cerveira, com quem manteve um relacionamento à distância até que a vontade de estar juntos os transcendeu. "É uma história engraçada. Eu estava no Peru, conhecemo-nos por sermos bombeiros, depois tive de ir a um congresso em Espanha, comecei a viajar pela a Europa e conheci-o pessoalmente. Namorámos, estivemos um ano com um relacionamento à distância e acabámos por juntos ir trabalhar numa empresa em Angola durante um ano e meio", conta Aimy Cáceres, 27 anos, mulher de Henrique Costa, de 25. "Depois decidimos voltar a Portugal para estudar. Estou a tirar um mestrado de Ciência e Tecnologia do Ambiente e ele está a estudar Geografia na Universidade do Porto", refere. Em Portugal desde Maio de 2009, Aimy é uma das 12 recrutas da escola de bombeiros de Cerveira.
"Era bombeira em Lima e estou a fazer a formação porque queria continuar a ser bombeira em Portugal. Nesta altura lá já seria bombeira de primeira", diz, explicando que optou ainda assim por fazer instrução porque no Peru "não havia incêndios florestais e os sistemas de emergência médica e de gestão de materiais perigosos são diferentes dos portugueses".

Fonte: JN