quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Desculpa do INEM nunca chegou a viúva de médico


Entidade admite erro no accionamento de meios, mas ainda não deu uma explicação.

O INEM activou por erro bombeiros a 57 quilómetros para socorrer uma vítima, que faleceria a 400 metros de uma corporação.

O episódio ocorreu em Fevereiro de 2008 mas, até hoje, ninguém daquele organismo forneceu informação do sucedido aos familiares.

Se houve responsáveis pelo erro e se o inquérito interno aos procedimentos teve consequências, Verónica Bento de nada soube. Há cerca de dois anos que aguarda que o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) lhe dê uma explicação para o incidente que envolveu funcionários daquele organismo e culminou na morte do marido, esvaído em sangue enquanto aguardava por uma ambulância.

Apenas um subsídio da Ordem dos Médicos (OM), para que o filho Pedro não abandone os estudos e as memórias de uma vida partilhada ao lado de Jorge Bento, um cirurgião do Hospital de Vila Franca de Xira, restam a Verónica, após o episódio dramático da noite de 27 de Fevereiro de 2008. "Fiquei sem a minha base de sustentação. Ninguém nos procurou para nos ajudar. Se não fosse a Ordem dos Médicos, o meu filho não tinha como estudar", confessa a mulher, de 53 anos.

Problema com a activação

A falha do INEM ocorreu quando um dos operadores do Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) activou uma ambulância da corporação de Almeirim, a 57 quilómetros da residência da vítima, quando a mais próxima distava somente a 400 metros.

A chamada para o 112 foi feita pelo filho de Jorge Bento, pelas 23.35 horas, depois de o médico ter desencadeado uma pequena hemorragia, devido a uma traqueotomia realizada duas semanas antes para a extracção de um tumor.

Só às 00.15 horas os bombeiros de Samora Correia agem, respondendo ao apelo de populares, que os abordam directamente. Aí, já os de Almeirim tinham invertido a marcha de urgência. A espera deixou o médico a agonizar. "Um amigo do meu marido teve de ir a pé chamar os bombeiros. Enquanto isso, via o meu marido a desfalecer", lembra Verónica Bento

Confidencialidade de processo

O JN apurou que o inquérito interno acabou por apontar um "comportamento negligente" do operador do INEM, tendo o funcionário sido punido com uma sanção disciplinar. Pelo menos, esta versão constava de um ofício do gabinete do secretário de Estado da Saúde enviado à Câmara Municipal de Benavente.

Fonte oficial do INEM, questionada pela ausência de uma resposta à família sobre este incidente, adiantou ao JN que foram cumpridos "todos os procedimentos necessários numa situação deste tipo", recusando prestar qualquer informação de carácter judicial, porque considera tratar-se de uma questão relacionada com a conduta profissional de "um ou mais funcionários".

"Mais importante do que a punição do ou dos elementos envolvidos, [o INEM] procurou também encontrar soluções, quer ao nível da organização dos procedimentos, quer ao nível do sistema informático, para que não ocorram situações futuras, ou seja, minimizando o mais possível a margem de erro de actuação do CODU", salientou.

Fonte: Jornal Noticias