quarta-feira, 23 de março de 2011

Quando for idoso quero ser Bombeiro


Ao contrário da maioria das outras crianças o sonho de ser bombeiro nunca me perseguiu. Aliás, quando passavam os auto-tanques e as ambulâncias nas ruas a correr muito depressa e aos gritos, a única pergunta que aflorava no meu cérebro era “coitados, quem será que lhes terá batido?”

Na puberdade mantive exactamente a mesma postura. Numa época em que coramos por tudo e por nada, e em que passamos horas a tentar disfarçar uma borbulha no meio da testa antes de sair de casa, a ultima coisa que desejava era chamar a atenção ao que quer que fosse, quanto mais andar pelas ruas a correr aos gritos vestido de vermelho.
Hoje em dia já vejo o universo dos bombeiros de outra forma, acho que os “soldados da paz” são de uma utilidade extrema para a sociedade, continuam a não me fascinar os gritos das ambulâncias, os capacetes reluzentes e os machados, mas a maior utilidade dos bombeiros é bem mais simples. Lembram-nos de que estamos vivos. O que é uma coisa que, convenhamos, dá jeito.
Faz-me no entanto confusão a vida dos bombeiros, não a profissional essa é de uma utilidade extrema para a sociedade, mas sim a pessoal. Será que há bombeiros que misturam as duas?
Como será que reage um bombeiro ao chegar a casa e encontrar o carteiro a ter um ataque cardíaco quando está nu na sua cama com a sua mulher? Será que lhe presta os primeiros socorros? Será que à falta de um desfribilador o encosta várias vezes a uma tomada descarnada? Ou será que o atira da janela porque prefere tratar fracturas em vez de problemas cardíacos?
São estas e outras dúvidas, que acho, dão fascínio à nobre profissão de Bombeiro. Mas no fundo acho que me irei converter depois dos setenta. E sim nessa altura ser bombeiro será o meu sonho! É verdade, depois de muito matutar no assunto (mais ou menos 5 segundos), cheguei à conclusão que quando for idoso quero ser bombeiro.
E quererei ser bombeiro por três razões apenas, a primeira é que daqui a 30 anos não deve haver nada em Portugal para arder, nem florestas, nem economia, nem nada, logo deve ser uma das profissões com mais tempo livre, o que é bom para idosos.
A segunda é que caso tenha o acidente de uma jovem de vinte e três anos, por algum milagre, ficar com calores, ou até com febre por se ter apaixonado por mim, eu vou necessitar de ter treino de primeiros socorros para resolver a situação. Falo obviamente de me auto-socorrer.
E por fim, dava jeito a todos os idosos serem bombeiros, mas com o pequeno detalhe de usarem uma mini sirene num pequeno fio ao pescoço. Com a frequência que são encontrados sozinhos em casa dias, meses e anos depois de baterem a bota, acho que essa pequena sirene daria imenso jeito, pois quando caíssem no chão, aquilo não pararia de tocar. E assim, as pessoas lá do prédio já não podiam dizer que não sabiam que tinha acontecido alguma coisa ao idoso do 3º esquerdo.
Obvio que isto é uma utopia e uma parvoíce, mas se fosse possível, acho que seria impossível viver por aqui com tantas sirenes a tocar.

Fonte: http://www.mafrahoje.pt/pt/articles/quando-for-idoso-quero-ser-bombeiro