domingo, 11 de setembro de 2011

Como o cinema viu o 11 de Setembro



É porventura o tema de abordagem mais sensível da última década, um evento traumático à escala mundial que o cinema tem tratado com doses variáveis de cuidado em filmes como «Voo 93» e «World Trade Center».

Os atentados terroristas aos EUA a 11 de setembro de 2001, que tiveram o seu momento mais emblemático na destruição das torres gémeas do World Trade Center, em Nova Iorque, traumatizaram o planeta. O cinema, naturalmente, não foi indiferente ao evento, e abordou-o diretamente com graus diferenciados de sensibilidade.

Os dois filmes mais célebres e importantes relacionados com o 11 de Setembro estrearam ambos em 2006, já cinco anos depois da tragédia: «Voo 93», escrito e produzido pelo britânico Paul Greengrass, e «World Trade Center», dirigido por Oliver Stone.

O arrepiante «Voo 93» coloca o espetador dentro do avião da United Airlines raptado por membros da al-Qaeda para atingir um alvo em Washington (provavelmente a Casa Branca ou o Capitólio), destino evitado pela intervenção dos passageiros, que não conseguiram impedir que o avião se despenhasse sem qualquer sobrevivente. O filme acompanha a tragédia em tempo real e com atores desconhecidos e em registo semi-documental, o que torna o seu visionamento uma experiência quase insuportável.

Já «World Trade Center» aborda a tragédia de um ponto de vista mais humanista, com Oliver Stone a fugir às suas habituais teorias da conspiração para centrar-se na história verídica de dois polícias (interpretados por Nicolas Cage e Michael Peña) que ficaram soterrados nos destroços do edifício e conseguiram sobreviver, numa história intensa de heroísmo face à tragédia.

A primeira película a abordar o evento surgiu logo em 2002, «11'09'01 - 11 Perspectivas», e reuniu num mesmo filme 11 cineastas de países diferentes que deram cada um a sua visão dos acontecimentos em precisamente 11 minutos, nove segundos e um «frame»: a iraniana Samira Makhmalbaf, o francês Claude Lelouch, o egípcio Youssef Chahine, o bósnio Danis Tanović, o burquinense Idrissa Ouedraogo, o britânico Ken Loach, o mexicano Alejandro González Iñárritu, o israelita Amos Gitaï, a indiana Mira Nair, o norte-americano Sean Penn e o japonês Shōhei Imamura.

Entretanto, o cinema independente foi fazendo o seu caminho, em pequenos dramas que tiveram pouco impacto à escala internacional, como «Bandhak», dirigido em 2003 por Hyder Bilgrami, sobre o racismo contra os sul-asiáticos nos EUA do pós-11 de Setembro; «WTC View», de 2005, de Brian Sloan e baseado numa peça de sua autoria; ou «AmericanEast», de 2007, sobre a comunidade islâmica que vive em Los Angeles.

Hollywood voltou à carga em 2007 mas com muito menos impacto, no drama «Em Nome da Amizade», sobre os traumas do 11 de Setembro, com Don Cheadle e Adam Sandler, e que em Portugal foi diretamente para DVD. Já em 2010, o tema serviu de pano de fundo a dois romances, «Lembra-te de Mim», com Robert Pattinson e Emilie de Ravin, e «Juntos ao Luar», com Channing Tatum e Amanda Seyfried.

A Europa também abordou a tragédia em fitas como «Alguns Dias em Setembro», realizada em 2006 por Santiago Amigorena, co-produzida por Paulo Branco, que decorre nos dias que antecedem os ataques; «Brick Lane», de 2007, sobre uma indiana em Londres no período de tensão que se seguiu ao 11 de Setembro; e, embora de forma lateral, «A Caminho de Guantánamo» (2006), de Michael Winterbottom, em toada semi-documental, sobre três muçulmanos ingleses presos durante dois anos por suspeição de envolvimento nos ataques terroristas.

A Índia não deixou de tratar o fenómeno em algumas obras, onde se destaca, pela imensa repercussão além-fronteiras, o filme «My Name is Khan», que em 2010 se tornou o maior êxito internacional do cinema de Bollywood, e se foca num jovem com a síndrome de Asperger, cuja postura socialmente errática leva a que seja detido no aeroporto de Los Angeles por comportamento suspeito.

Mas se a ficção cinematográfica tem tido punhos de renda a tratar o 11 de Setembro, o documentarismo feito para o grande ecrã nem sempre tem tido os mesmos cuidados. O caso mais célebre é o de «Fahrenheit 9/11», que valeu em 2004 a Palma de Ouro de Cannes a Michael Moore, e que é um ataque violentíssimo à administração Bush e à responsabilidade dos EUA nos ataques terroristas. Também Morgan Spurlock, o autor de «Super Size Me - 30 Dias de Fast-Food», optou pela via mais espetacular em «Where in the World Is Osama Bin Laden?», de 2008, onde parte em busca do líder da al-Qaeda.

Porém, fora os dois casos acima, a maioria dos documentários para cinema, contrariamente ao que sucede nos muito mais numerosos filmes documentais feitos para a televisão ou para a internet sobre o 11 de Setembro, têm tratado o fenómeno de forma mais lateral, focando-se em casos concretos que servem de espelho a uma reflexão maior. Entre os títulos mais emblemáticos, destaque para «Being Osama» (2004), sobre seis canadianos de origem árabe que se chamam Osama; «The Tillman Story» (2010), sobre a tentativa de descoberta do que está por trás da morte do ranger Pat Tillman no conflito no Afeganistão; ou mesmo «Dixie Chicks: Shut Up and Sing» (2006), que documenta durante três anos os efeitos na banda de uma crítica aberta a George W. Bush feito pela vocalista do grupo.

Finalmente, já em 2011, estreou em algumas salas americanas no final de agosto (e será exibido precisamente a 11 de setembro no canal Showtime) o filme «Rebirth», um documentário muito elogiado de Jim Whitaker, que acompanha ao longo dos vários anos cinco pessoas profundamente afetadas pelos ataques ao World Trade Center: um adolescente que perdeu a mãe, um bombeiro que perdeu colegas, uma mulher que perdeu o noivo, outra mulher que já sofreu mais de 40 cirurgias, e um operário que está a ajudar na construção do local.

Fonte: cinema.sapo.pt