segunda-feira, 14 de novembro de 2011

“Temi que me caísse em cima”



Completamente apanhado de surpresa, António José Branca viveu o momento mais aterrorizador da sua vida. O homem, de 39 anos, desempregado, preparava-se para atravessar a ponte quinhentista sobre o rio Vouga, na antiga EN1, em Lamas de Vouga, Águeda, quando caiu nos escombros da estrutura que tinha ruído momentos antes, cerca das 21h00 de sábado. A ponte tem 100 metros de comprimento, 15 dos quais desabaram.

"Escorreguei pelo pilar e caí na água. Depois agarrei-me a uma das pedras e não saí dali porque tive medo que o resto da ponte caísse em cima de mim", contou ainda bastante abalada a única vítima do desmoronamento. Seguiram-se momentos de autêntico terror enquanto o homem gritou insistentemente por socorro – numa altura em que o local parecia deserto. Um casal que por ali passou momentos depois ouviu os pedidos de auxílio e chamou os bombeiros para tirarem o homem do rio. A vítima foi retirada da água e transportada para o Hospital de Aveiro onde recebeu tratamento. Ao início da tarde de ontem já estava em casa.

"A ponte encontra-se encerrada há cerca de um ano porque foi pedida uma inspecção que verificou que a ponte estava em más condições, mas nunca disseram que estava em risco de ruir", explicou ao CM Jorge Almeida, vice-presidente da Câmara de Águeda. O autarca explicou que a reconstrução daquela estrutura implica um investimento de dois milhões de euros, verba que não é possível ser utilizada na obra. "Além disso a relação custo/benefício não se justifica, pois existe uma ponte a 200 metros do local e é perfeitamente capaz de servir a população das juntas de freguesia de Lamas de Vouga e Macinhata de Vouga". Para os populares, porém, a alternativa está mais longe do que os 200 metros.

"A ponte faz-nos muita falta, porque temos de andar um quilómetro de uma freguesia para a outra", relatou ao CM Henrique Miranda, um dos moradores de Lamas de Vouga que está indignado com o facto de não haver nenhum projecto para a reconstrução da ponte. "Crianças e idosos vão ter de dar uma volta muito grande para irem à igreja ou a casa de familiares", acrescentou. Os populares lembram que a ponte é património histórico, que devia ser mantido.

139 INTERVENÇÕES PREVISTAS EM 2012

A Estradas de Portugal (EP) realizou este ano 125 intervenções em pontes, viadutos e outras infra-estruturas do País e prevê aumentar esse número para 139 já em 2012. Segundo fonte da EP, o custo destas intervenções ronda os 54 milhões de euros.

Apesar das reconhecidas dificuldades financeiras, a mesma fonte garantiu não estar "nenhuma intervenção por fazer". "No início do ano houve alguns condicionalismos orçamentais, mas foi feito um reajustamento das prioridades que permitiu a sua realização", acrescentou.

A ponte 25 de Abril é uma das infra-estruturas que está a ser intervencionada pela Estradas de Portugal. Até ao final do ano, garante a empresa, dar-se-á início à correcção nas sapatas da ponte 25 de Abril, o que vai custar 300 mil euros.

Estas obras resultam da inspecção subaquática terminada em Abril que detectou corrosão naquelas estruturas. A empresa prevê que a intervenção esteja concluída num prazo de três meses, apesar de estar dependente das condições atmosféricas. A inspecção dos pilares da ponte custou 76 mil euros.

DISCURSO DIRECTO

"CORTES DIFICULTAM": Fernando Ruas Associação Nacional de Municípios

Correio da Manhã – As pontes municipais são examinadas?

Fernando Ruas – Nem todos os municípios terão planos de conservação. Em Viseu, estamos a fazer as intervenções necessárias à conservação das nossas infra-estruturas.

– Há dinheiro para conservar pontes e viadutos municipais?

– Os cortes anunciados no Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) e agora no Orçamento do Estado dificultam a capacidade de resposta dos municípios.

– Autarquias estão em alerta?

– A situação não será igual em todos os municípios, mas desde a tragédia de Entre-os-Rios existe maior sensibilização.

Fonte: CM