domingo, 24 de outubro de 2010

Família de Curvaceiras revoltada com demora de socorro do INEM


Uma família de Curvaceiras, freguesia de Paialvo, Tomar, está tão desolada como revoltada com o luto que invadiu as suas vidas, acusando o INEM de ter demorado quase uma hora a prestar auxílio ao familiar que agonizava no sofá da sala. Sentados na mesma divisão da casa, Emília Marques Coentro e Luís Carreira são o rosto da dor. O filho João António Carreira, de 45 anos e marinheiro há 27, era solteiro e costumava vir passar quase todos os fins-de-semana a casa. No domingo, 3 de Outubro, acordou pelas 08h00 “muito bem-disposto” para ir à caça mas duas horas depois já se encontrava de regresso, com dois coelhos pendurados. “Perguntei-lhe se a caça não estava a correr bem, disse-me que sim mas que estava a sentir uma dor muito forte no peito”, contou a mãe com a voz embargada.


Dada a aflição que apresentava, uma das irmãs ligou para o INEM, através do 112, pelas 10h10, conta. “A minha filha mais velha só dizia venham depressa que o meu irmão está a morrer. Mas eles faziam-nos perguntas atrás de perguntas e nós a vê-lo a revirar os olhos e a ficar negro. Inclusivamente disseram-nos para colocar o auscultador junto da sua boca para ouvirem a respiração”, conta Emília Coentro, revoltada, contando que a ambulância só chegou cerca das 11h20, após vários telefonemas. O INEM aponta as 10h42 como hora da chegada do socorro ao local.


“Se ele não podia falar porque é que pediam para falar com ele? Ele que só conseguiu dizer “ai que dor tão forte”. E ficou-se”, sintetiza. Quando a ambulância chegou, de acordo com a família, seriam mais de onze horas e já nada havia a fazer. A revolta maior foi quando constataram que na ambulância apenas iam dois bombeiros socorristas e que não utilizaram nenhum equipamento de reanimação. “Até mediram a pressão arterial com o meu aparelho”, conta o pai.


Para Emília Coentro, a grande revolta é a assumpção de que o filho morreu à espera de socorro. “Se fosse um deputado, daqueles dos grandes, tinham logo enviado um helicóptero mas para o meu querido filho nem uma equipa médica enviaram para o socorrer”, atesta em lágrimas. “Não lhes perdoo. Isto é muito injusto. Podia morrer na mesma mas ao menos que o tentassem salvar”, desabafa, referindo que não vale a pena chamar o 112. “Já disse que se alguma vez me sentir mal que não chamem o INEM, levem-me de carro ou de ambulância, porque enquanto fazem as perguntas a pessoa fica-se”, refere. Transportado para o Hospital de Tomar, a família foi informada do óbito.


A versão do INEM


Contactado por O MIRANTE, o INEM confirma que foi recebido um pedido de socorro pelas 10h20 e que “a triagem foi correctamente executada”, tendo sido accionada a ambulância INEM mais próxima do local, ou seja, a que está sedeada em Tomar, nos Bombeiros Municipais. “Os registos do veículo marcam as 10h42 de chegada ao local e não 11h20, como afirma a família”, diz fonte da instituição que, questionada sobre o facto de não ter sido enviado nenhum médico ou de, segundo a família, não ter sido accionado qualquer equipamento vital na acção de socorro, referiu “não ter esclarecimentos adicionais”.


Este não é o primeiro caso relacionado com queixas de atraso no INEM que acontece em Curvaceiras, Tomar. A 24 de Fevereiro de 2009, Lara Santos, uma bebé com cerca 10 meses, encontrava-se à guarda da avó materna moradora na mesma localidade de Tomar, localizada a 15 quilómetros da cidade, tendo falecido enquanto aguardava pela ambulância do INEM. De acordo com familiares foi o período de triagem que provocou o atraso na chegada dos meios de socorro uma vez que a ambulância só chegou quase uma hora depois do alerta inicial.

Fonte: O Mirante