sábado, 2 de outubro de 2010

Hospitais acusados de cortar nas ambulâncias


Bombeiros dizem que há doentes prejudicados e acordos que não são cumpridos.

A contenção de custos nos hospitais está a reduzir o número de doentes transportados nas ambulâncias dos bombeiros. A Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP) avisa que "há doentes a serem transportados de forma violenta", mas nos hospitais já há avisos para cortar nas ambulâncias dos bombeiros. Noutras unidades do Ministério da Saúde (MS), o acordo assinado com a LBP não é cumprido.

"Há situações de doentes transportados, de forma violenta, para hemodiálise que vão em sofrimento até ao tratamento", denuncia o vice-presidente da LBP, Paulo Hortênsio. Esta é uma das "faces visíveis das restrições orçamentais a que o MS não foi alheio", acusa . O dirigente lembra que "há um aumento substancial do volume de queixas das associações de bombeiros sobre quebras no transporte de ambulância". Hortênsio assume nada ter "contra doentes transportados em táxis", mas avisa que "o doente é quem sofre".

No Hospital Amadora-Sintra, por exemplo, o acordo entre a LBP e o MS não está a ser cumprido. Num folheto enviado aos utentes e às corporações de bombeiros de Sintra e Amadora, o hospital assegura que apenas paga "os pedidos de transporte validados pelo INEM". A administração alerta que "os transportes" de ambulância para o hospital, a pedido directo do utente, serão da sua inteira responsabilidade.

Até finais de Agosto os bombeiros faziam emergência pré-hospitalar e se o médico de serviço justificasse o transporte, o hospital pagava a factura tal como consta de um acordo assinado com a LBP, em que ficou estabelecido que "se a situação for considerada emergente ou urgente a responsabilidade do pagamento recai sobre a entidade receptora". Mas, na prática, nos casos em que o INEM não considerava a situação urgente, encaminhava o doente para os bombeiros que faziam o transporte a expensas do hospital.

Ao DN, o hospital Amadora- -Sintra explicou que "desconhecia o acordo assinado entre a Liga dos Bombeiros e a Direcção-Geral da Saúde. Face a isso, informámos os bombeiros que iremos cumprir escrupulosamente os termos do acordo", disse a assessoria.

Também em Lisboa, várias empresas privadas de transporte de doentes disseram ao DN que nos últimos três meses aumentaram os pedidos de particulares. "Vamos muitas vezes ao Hospital de Santa Maria, a pedido de familiares de doentes que recebem alta. Dizem-nos que ficam muito tempo à espera da ambulância do hospital, algumas sete horas", disse ao DN Luís Salgueiro, da Tele-Macas.

Experiência semelhante relatou Carlos Rodrigues, da Expresso Vidas. "Os doentes do Santa Maria chamam-nos porque dizem que estão quatro horas à espera de transporte, ou que têm alta de manhã e só vão para casa à noite", contou, acrescentando: "Também há pessoas que vão ao serviço de radioterapia do IPO de Lisboa e dizem que o hospital não tem vagas para transporte."

Correia da Cunha, director do Santa Maria, disse ao DN desconhecer o problema, embora admita que possam "existir situações de excepção". "Temos frota própria e quando a nossa capacidade está preenchida recorremos ao serviço dos bombeiros", explicou.

Já o conselho de administração do IPO de Lisboa afirmou que "não se tem verificado qualquer inversão no número de requisições de transporte", que são feitas pelos médicos, acrescentando que "foram criadas as condições que permitem dar resposta a todas as solicitações".
Fonte: DN