sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Morreu à espera de socorro à porta da Cruz Vermelha


A falta de operacionalidade da delegação da Cruz Vermelha Portuguesa de Campo S. Salvador, em Barcelos, é a justificação para, no sábado, não ter socorrido António Rêgo, que morreu após uma grave acidente a escassos 20 metros da sua delegação.

"Ao fim-de-semana, temos um escalonamento que é feito por voluntários, entre as 20.30 horas e a meia-noite, para complementar serviços de urgência e, no acidente de sábado, não foi possível garanti-lo por falta de operacionalidade da viatura e recursos humanos", explicou, ao JN, José Campos, presidente daquela unidade de socorro.

A justificação surge após queixas de populares que tentaram chamar a CVP para assistir António Rêgo, após um grave acidente rodoviário, às 22 horas, a 20 metros da sede da sua delegação de Campo, mas não estava lá ninguém. Fonte do INEM não só confirma a veracidade da história, como conta ainda que foram accionados os bombeiros de Barcelinhos, que ficam a mais de 10 quilómetros do local do acidente. "As pessoas foram chamar ajuda. Repararam que a ambulância estava lá mas estava tudo fechado e não havia ninguém", denunciou Luís Oliveira, socorrista no inactivo da CVP de Campo. Também o CODU accionou os meios da delegação, mas ninguém atendeu o telefone. Para o local do sinistro (um choque entre um motociclo e um veículo de mercadorias), foram os Bombeiros de Barcelinhos.

A ajuda demorou mais de dez minutos a chegar. A vítima foi reanimada no local, para onde também se dirigiu a VMER do Hospital de Barcelos, mas o motociclista morreu no Hospital de Braga. Rapidamente se gerou uma onda de contestação à forma como é gerida a delegação da CVP de Campo. "Fica a dúvida. Se o socorro, em vez de demorar mais de 10 minutos, fosse imediato, poderia a vítima ser ou não salva? O mais grave é que não se trata de um caso isolado, já aconteceram outros", explicam alguns ex-socorristas, que denunciam "a má gestão de quem está à frente da delegação.

"A operacionalidade daquela estrutura está a passar a uma inoperacionalidade preocupante. Desde o facto de sermos enviados para apoios em vez de estarmos em emergência, deixando a população sem meios de socorro de proximidade, havendo mesmo chamadas do CODU, para a proximidade da CVP, que tivemos que rejeitar por estarmos nos tais apoios", explicam alguns ex-socorristas.

Confrontada com a situação, o presidente daquela unidade explica que "existem divergências quanto à forma como a estrutura é dirigida", o que levou ao pedido de afastamento de alguns voluntários. "O antigo coordenador fazia escalas sem consultar os voluntários, o que originou alguns conflitos. Agora o método é outro. Claro que há gente que prefere um método a outro. Mas sublinho que estamos a trabalhar com voluntários e que não os podemos obrigar a nada", explica José Campos, que lamentou não ter um serviço de 24 horas de urgência.

"As verbas são poucas e temos 21 voluntários actualmente. Melhorar o serviço é o nosso objectivo e é por isso que estamos numa fase de recrutamento de novos voluntários e apelamos a que, se todos ajudarem, quem ganha é a população", referiu o presidente da delegação da CVP de Campo.

Aquela unidade de socorro já chegou a ter 100 voluntários, mas que, por divergências internas, foram-se afastando, restando cerca de um quinto desses socorristas. Apesar da polémica, entre a população quem garanta que "o serviço é bom".

Fonte: JN