sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Bombeiros do distrito de Bragança contra direcção clínica do CHNE.


Está aberta a guerra entre a Federação de Bombeiros do Distrito de Bragança e o director clínico do centro hospitalar do Nordeste. Em causa está o transporte de doentes no distrito de Bragança.
Humberto Martins, o presidente da Federação distrital de Bombeiros, acusa o director clínico do Centro Hospitalar do Nordeste de estar a criar entraves à população.

“Os médicos passam efectivamente a requisição do transporte de doentes e depois há um director clínico que depois corta e diz que o doente não tem direito. Isto é que é motivo de preocupação e nos levou a tomar uma resolução e pedir ao senhor Governador Civil que faça aplicar a lei, isto é, desde que haja requisição, que a mesma tenha aplicação e ninguém ande com cortes e meios cortes.”

Humberto Martins diz que esta atitude traz vários problemas às associações de bombeiros e cria desconfiança nas populações.

“Se os bombeiros fazem transporte e depois a credencial vem rejeitada, repare na situação que se cria. Temos de mandar uma carta ao doente a pedir o pagamento mas ele responde que tinha credencial. Temos de explicar que foi o director clínico que rejeitou. Se a situação se deteriora, as associações de bombeiros deixam de ter condições para ter tantos assalariados e cria desconfiança nas populações em relação aos bombeiros. Isto parece uma anedota”, sublinha.

Ora, confrontado com estas declarações, o director clínico do CHNE, Sampaio da Veiga, responde assim.

“Não respondo a comunicados nem faço comentários em contraditório com os bombeiros, que têm dado o seu esforço às populações do Nordeste. Mas estamos a falar de uma legislação que não é recente mas que teve há pouco tempo novas orientações e fundamentam-se na informação clínica. Todas as situações em que a situação clínica descritas pelo médico no processo clínico e plasmada no pedido, são autorizadas. As que não cumprem, não são”, explica.

Sampaio da Veiga deixa ainda entender que alguns cortes se devem a falta de rigor e a informação deficientemente transmitida pelos médicos na ficha dos doentes.

“Não há nenhum corte cego, não cortámos transporte a ninguém que não tinha justificação. Como se explica a diferença de avaliação entre o médico e o director clínico? Não sei, tem de perguntar aos médicos”, responde Sampaio da Veiga. “Limito-me a cumprir o que veio estatuído na última comunicação do senhor Secretário de Estado. Todos temos de ser mais rigorosos naquilo que fazemos. Não pode haver alterações verbais, minimalistas na escrita. Tem de haver um registo correcto, completo, perfeito e tem de bater a bota com a perdigota. Não se pode escrever uma coisa num papel de requisição e não ter a mesma informação no registo clínico.” Uma comunicação interna do CHNE a que tivemos acesso estabelece os critérios de autorização de transporte de doentes.

De acordo com o documento, assinado pelo presidente do conselho de administração, indicam-se sete situações preferenciais no transporte de doentes. Doenças do foro oncológico que incapacitem para outra forma de transporte, como o autocarro, por exemplo, doenças neuromusculares de origem genética que incapacitem o paciente, doentes com sequelas motoras de doenças neurológicas e neurovasculares, iminência de parto e apoio à mãe e recém-nascido, grandes acamados quando se justifique e doentes com problemas no sistema imunitário.

Há ainda situações de excepção para residentes a menos de 20 quilómetros, como doentes de hemodiálise ou submetidos a transplante.

Recorde-se que desde o início deste ano, um despacho do secretário de Estado da Saúde alterou a forma de comparticipação de transporte aos doentes, indicando que apenas com justificação médica e quem ganhasse menos do que o salário mínimo teria direito.

Mais tarde, o Ministério da Saúde clarificou o despacho, deixando cair a questão dos rendimentos, alegadamente por dificuldades técnicas no cálculo.

No entanto, a Liga de Bombeiros portugueses continua a bater-se pela revogação desta medida, defendendo que prejudica os doentes e põe em causa uma importante fonte de rendimentos para os bombeiros.

Fonte: Brigantia