De um momento para o outro, o inferno de chamas, que rodeava Ribeira de Pena e Boticas desde segunda-feira, foi-se, com os aguaceiros que caíram na região de Trás-os-Montes. Mas a chuva foi, em alguns casos, de enxurrada, e até arrasou culturas em Chaves...
Um inferno, o fim do mundo, uma coisa que nunca ninguém viu…Era assim que, ontem, a população de Covas do Barroso, Boticas, recordava o incêndio que no dia anterior queimou pinhais e pastagens, destruiu vacarias e matou seis vitelos.
Só a chuva que caiu (e provocou uma enxurrada em Chaves, ver página ao lado), ao meio da tarde de ontem, pôs fim ao incêndio que desde segunda-feira concentrou as atenções dos meios da protecção civil e transformou num pesadelo a vida das populações de algumas aldeias de Ribeira de Pena e de Boticas. Pelas contas do governador civil de Vila Real, Alexandre Chaves, terão ardido, pelo menos, seis mil hectares de pinheiro bravo.
“Milagre? Milagre era se viesse ontem. Agora faz falta, até para a agricultura, mas ontem é que fazia falta”, insurgia-se, ontem, o morador de Covas do Barroso, Napoleão Fernandes, referindo-se à chuva que, finalmente, acabara com o incêndio.
Agora as suas pernas já não lhe permitem fazer o que quer. Quando era novo e havia incêndios chegava-se tanto às chamas que até ficava com os braços empolados. Impotente, ontem, passou a tarde a ligar para os jornalistas. “Peguei na lista telefónica, era para os que apareciam. Só não dei com o da TVI. Disse-lhes :“quando foi por causa do padre viestes cá todos, agora para mostrar esta desgraça ao mundo não vem cá nenhum?”, lembra Napoleão, com um pau numa mão e enxada na outra.
A mulher, Maria Luísa, também não ganhou para o susto. “Era um cordão de lume daqui, um cordão de lume além... estávamos rodeados. Dizem que o fim do mundo é com fogo, pois ontem foi o que pensei: estamos no fim do mundo”. O dono de um café passou a noite quase em claro. “Acho que ninguém dormiu! Nunca fui ao inferno, não sei como é, mas era o que isto pareceria ontem”.
Brasília Fernandes, de 50 anos, está no fundo das escadas a partir fruta podre para a fazenda. O marido Francisco Costa e o irmão “estão a comer qualquer coisa”.
“Ontem não comeram nada. E eu pouco, comi uma malga de leite e vomitei-o. Não se me engole nada!”, diz. Brasília e Francisco foram o casal a quem o fogo mais prejuízo causou. “Era tanto fumo, que uma pessoa não sabia onde punha os pés. O meu irmão, coitado, trazia um pulverizador, regava um bocadinho o chão, o fumo levantava e lá conseguiu tirar os dois tractores, mas aos vitelos já não lhe pudemos valer”.
Além dos seis vitelos mortos, dois geradores, dois reboques, uma carrinha, uma caixa cheia de milho, Francisco ainda ficou sem mais de 2000 e tal fardos de feno. “Ele faz-se forte, mas ontem quando se encostou para descansar um bocadinho, só dizia: o que vai ser da minha vida”, recordava a mulher, de lágrimas nos olhos.
Em comunicado, ontem, a Câmara de Boticas anunciou que iria proceder ao levantamento “exaustivo” dos prejuízos para os comunicar ao Governo, “por forma a que os agricultores possam vir a ser indemnizados”. “Caso contrário, a sua sobrevivência poderá estar em risco”.
Fonte: JN
Um inferno, o fim do mundo, uma coisa que nunca ninguém viu…Era assim que, ontem, a população de Covas do Barroso, Boticas, recordava o incêndio que no dia anterior queimou pinhais e pastagens, destruiu vacarias e matou seis vitelos.
Só a chuva que caiu (e provocou uma enxurrada em Chaves, ver página ao lado), ao meio da tarde de ontem, pôs fim ao incêndio que desde segunda-feira concentrou as atenções dos meios da protecção civil e transformou num pesadelo a vida das populações de algumas aldeias de Ribeira de Pena e de Boticas. Pelas contas do governador civil de Vila Real, Alexandre Chaves, terão ardido, pelo menos, seis mil hectares de pinheiro bravo.
“Milagre? Milagre era se viesse ontem. Agora faz falta, até para a agricultura, mas ontem é que fazia falta”, insurgia-se, ontem, o morador de Covas do Barroso, Napoleão Fernandes, referindo-se à chuva que, finalmente, acabara com o incêndio.
Agora as suas pernas já não lhe permitem fazer o que quer. Quando era novo e havia incêndios chegava-se tanto às chamas que até ficava com os braços empolados. Impotente, ontem, passou a tarde a ligar para os jornalistas. “Peguei na lista telefónica, era para os que apareciam. Só não dei com o da TVI. Disse-lhes :“quando foi por causa do padre viestes cá todos, agora para mostrar esta desgraça ao mundo não vem cá nenhum?”, lembra Napoleão, com um pau numa mão e enxada na outra.
A mulher, Maria Luísa, também não ganhou para o susto. “Era um cordão de lume daqui, um cordão de lume além... estávamos rodeados. Dizem que o fim do mundo é com fogo, pois ontem foi o que pensei: estamos no fim do mundo”. O dono de um café passou a noite quase em claro. “Acho que ninguém dormiu! Nunca fui ao inferno, não sei como é, mas era o que isto pareceria ontem”.
Brasília Fernandes, de 50 anos, está no fundo das escadas a partir fruta podre para a fazenda. O marido Francisco Costa e o irmão “estão a comer qualquer coisa”.
“Ontem não comeram nada. E eu pouco, comi uma malga de leite e vomitei-o. Não se me engole nada!”, diz. Brasília e Francisco foram o casal a quem o fogo mais prejuízo causou. “Era tanto fumo, que uma pessoa não sabia onde punha os pés. O meu irmão, coitado, trazia um pulverizador, regava um bocadinho o chão, o fumo levantava e lá conseguiu tirar os dois tractores, mas aos vitelos já não lhe pudemos valer”.
Além dos seis vitelos mortos, dois geradores, dois reboques, uma carrinha, uma caixa cheia de milho, Francisco ainda ficou sem mais de 2000 e tal fardos de feno. “Ele faz-se forte, mas ontem quando se encostou para descansar um bocadinho, só dizia: o que vai ser da minha vida”, recordava a mulher, de lágrimas nos olhos.
Em comunicado, ontem, a Câmara de Boticas anunciou que iria proceder ao levantamento “exaustivo” dos prejuízos para os comunicar ao Governo, “por forma a que os agricultores possam vir a ser indemnizados”. “Caso contrário, a sua sobrevivência poderá estar em risco”.
Fonte: JN