quarta-feira, 1 de setembro de 2010

"Modelo não serve"


O presidente da Câmara Municipal de Boticas, um dos concelhos, a par de Ribeira de Pena, mais fustigados pelos incêndios florestais dos últimos dias, considera que o combate às chamas está a ser prejudicado por uma “péssima coordenação”, prometendo “pedir responsabilidades”. Na perspectiva do autarca social-democrata Fernando Campos, o actual modelo de gestão de meios do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios “não serve”

"Não vale a pena estarmos a procurar encontrar serviços, nem trabalhos, nem empregos para ninguém. Temos que alterar o sistema". O repto, que parece ter o Ministério da Administração Interna por destinatário, foi lançado nas últimas horas pelo presidente da Câmara de Boticas. Em declarações à Antena 1, Fernando Campos garantiu que, "a seu tempo", tratará de "pedir responsabilidades a quem devia ter uma coordenação exemplar".
"É evidente que a falta de coordenação, ou uma péssima coordenação, eu diria mesmo o exemplo acabado de como não se deve coordenar um incêndio desta dimensão, existiu aqui neste fogo da Ribeira de Pena e de Boticas", denunciou o autarca, para logo "realçar o trabalho" que ainda falta "fazer para conseguir dominar o incêndio".

Fernando Campos não hesita em concluir que, "efectivamente", o actual sistema de coordenação "não serve".

Incêndio pode "durar dias"

Cerca das 8h30, a Protecção Civil tinha registo de oito incêndios activos. Os mais significativos lavravam nos concelhos de Amarante, Cinfães, Monção, Montalegre e Ribeira de Pena, onde o fogo foi uma ameaça directa a várias povoações. Em Ribeira de Pena, no distrito de Vila Real, as chamas progrediam em três frentes, depois de terem consumido perto de dois mil hectares de uma das mais importantes manchas de pinheiro bravo da Europa.

A reportagem da RTP no local ouviu o segundo comandante nacional da Protecção Civil, que advertiu para a possibilidade de o fogo se manter activo durante "dias".

"Vamos tentar fazer o nosso melhor. Os bombeiros têm sido inexcedíveis, andam há dias sem ir à cama. Têm sido, de facto, muitas ignições complexas", assinalou o coronel José Codeço.

Ao início da manhã, o combate às chamas no concelho de Ribeira de Pena mobilizava, segundo o portal da Autoridade Nacional de Protecção Civil na Internet, três centenas de operacionais, 26 equipas de sapadores florestais e 74 veículos. As chamas estão a consumir uma zona florestal no Gardunho desde a noite de segunda-feira e já obrigaram a accionar dois aviões bombardeiros pesados Canadair, da Reserva Táctica da União Europeia.

Risco máximo em seis distritos

O Instituto de Meteorologia colocou esta quarta-feira vários concelhos de seis distritos do país sob o alerta de risco máximo de incêndios. Aveiro, Viseu, Coimbra, Leiria, Santarém e Portalegre são os distritos abrangidos pelo nível mais elevado da escala de aviso.

A escala de risco de incêndio determinada pelo Instituto de Meteorologia compreende cinco níveis, que oscilam entre o "reduzido" e o "máximo". O cálculo é feito a partir dos valores observados às 13h00, da temperatura do ar, da humidade relativa, da velocidade do vento e da quantidade de precipitação verificada nas últimas 24 horas.

O Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais deve manter em vigor a Fase Charlie, relativa ao período de maior risco de incêndios, até dia 30 de Setembro.



Fonte: RTP