quarta-feira, 25 de agosto de 2010

"As equipas que intervêm têm de ter alguma frieza nestas situações"


Dezenas de viaturas acidentadas. Vários carros em chamas. Mortos. Muitos feridos a serem retirados. Dezenas de pessoas perdidas no meio de um cenário de pânico, agravado pela chuva e pelo intenso nevoeiro. Foi esta a situação com que se deparou António Machado, comandante operacional distrital de Aveiro, quando chegou à A25, a meio da tarde de segunda--feira. Uma corrida contra o tempo para salvar vidas, num ambiente aterrador, exigiu serenidade ao homem-forte das operações de socorro do distrito.
O responsável pelo Comando Distrital de Operações de Socorro encontrava-se no edifício da Governo Civil, em Aveiro, "a conversar com o segundo CODIS", quando, às 16.09, recebeu o alerta do acidente. Dada a dimensão da tragédia, António Machado teve alguma dificuldade em aceder ao local (nó das Talhadas da A25), mas, ainda assim, em contra-relógio, percorreu os cerca de 35 quilómetros em 20 minutos.
O primeiro alerta foi do CODU (Centro de Orientação de Doentes Urgentes). "Depois percebemos que a coisa era complicada e movimentámos os nossos meios", refere o responsável pela Protecção Civil de Aveiro. António Machado salienta a rápida intervenção do INEM que, além da montagem do posto médico avançado, fez chegar rapidamente ao local do acidente a VMER (viatura médica de emergência e reanimação) e que foi reforçando o apoio.
"Serenidade" é obrigatória num desastre desta envergadura. António Machado lembra que "a situação mais grave era o incêndio e essa era também uma das prioridades". Em entrevista ao DN disse que a "principal preocupação no local era desencarcerar (três carros), apagar o incêndio e tratar as vítimas".
No início, instalou-se o pânico na A25. Mas quando o comandante do CDOS chegou, já lá estavam alguns corpos de bombeiros e os ânimos estavam a serenar. Os feridos passaram por uma fase de triagem e foram retirados. "Depois havia muita gente que não estava ferida, mas que tinha participado naquilo tudo e estava perdida. Foi também complicado repor a situação dessas pessoas", conta, sereno, António Machado, 24 horas depois do acidente.
Segundo o comandante, a coordenação dos meios de socorro, entre as várias corporações, "resolveu-se rapidamente". A intervenção da Protecção Civil de Aveiro passou, numa primeira fase, por montar um posto de comando no nó das Talhadas. Seguiu-se a inventariação de meios. "Depois foi necessário sectorizar o acidente e atribuir canais de manobra, gerindo toda a situação."
A formação e a experiência das equipas de socorro são essenciais numa operação assim. "Nós temos de estar preparados para este tipo de situações. As equipas que intervêm estão preparadas para o pior dos cenários, e foi o que aconteceu. Têm, no fundo, alguma frieza neste tipo de situações", diz António Machado.
Dois acidentes em cadeia em sentidos opostos da via (Aveiro-Viseu e Viseu-Aveiro), a uma distância de cerca de 1500 metros, obrigaram a uma eficaz coordenação das várias equipas que acorreram ao local: mais de 180 bombeiros dos distritos de Aveiro e Viseu, 18 médicos e vários psicólogos.
António Machado tinha a responsabilidade de garantir que as vítimas recebiam depressa a assistência. "Não foi fácil lidar com a situação. É necessário definir objectivos e prioridades. Acho que correu bem, evidentemente que nunca corre como nós queremos, mas acho que dentro do cenário as coisas correram bem."

Fonte: DN