No Verão, o interior é estrela ardente.
Porque arde ou vive no receio de arder. Porque se consome ou vive no temor de se consumir. E quem se consome ou vive refém desse medo tem direito a protagonismo. Minutos a granel nos telejornais. Gente que grita, gente que chora, gente desesperada, gente a apagar, gente a fugir, bombeiros e restantes elementos da Protecção Civil em vai-e-vem heróico, até ao limite; aviões e helicópteros a enfraquecer a desgraça em cada descarga de água.
E onde arde, a gente grita e chora.
Porque estamos no Verão e o interior ou arde ou está com o medo de arder.
Algures, o manto negro e indistinto das vestes das viúvas da aldeia perpetua-se pela serrania.
Em volta, negrume. Para além dos gritos e choros para um país condoído pelo cenário, ficou, algures, numa serra ardida, gente perante o nada e a vontade de nada.
É... estamos em Agosto no Interior.
Mas vem aí o Outono.
Tempo de passarmos, novamente, à clandestinidade.
Até ao próximo Verão.
Até à próxima abertura de noticiário.
Por: Nuno Francisco
Fonte: Jornal do Fundão