terça-feira, 31 de agosto de 2010

‘‘Tivemos de fugir para não morrer queimados’’


"Fomos apanhados de surpresa. Foi o cruzamento das duas frentes de fogo, a mata é muito densa e com a ajuda do vento aquilo levantou. Não se via nada, tivemos de fugir para não morrermos queimados", conta Luís Maia, dos bombeiros do Estoril, que ontem, com vários colegas de corporações do Norte e Sul do País, combatia as chamas em Vila Real.

Foram momentos de pânico vividos durante a tarde, depois de duas frentes de fogo se cruzarem. As chamas estavam descontroladas desde domingo, após mais uma dezena de ignições terem sido ateadas em S. Martinho de Antã, em Sabrosa. As labaredas rapidamente chegaram à freguesia de Lodares, onde se viveram os momentos mais complicados, e o vento acabou por tornar o incêndio incontrolável.

"Aconteceu tudo em segundos. Num momento olho e vejo o fogo a 15 metros de mim. De repente surge um forte remoinho e eu só tenho tempo de baixar a cabeça. Quando olhei parecia o inferno, havia chamas por todo o lado. Corri e gritei, até a rama dos pinheiros dobravam e as rochas ardiam", conta Domingo Borges, um habitante de Lodares.

Uma das casas que esteve ameaçada foi a do antigo presidente da Junta de Vale de Nogueira, Ângelo Pereira. "Ele não estava em casa. Fomos nós que evitámos que fosse destruída", conta outro morador.

No combate ao fogo, que ontem ainda não estava dominado, estiveram quatro aviões e cerca de 150 bombeiros. As chamas tinha começado em São Martinho de Antã, estiveram activas toda a noite e chegaram a Lodares durante a manhã. O incendiário foi detido ainda anteontem pela Polícia Judiciária de Vila Real e ontem foi ouvido em tribunal (ver caixa).

"Estava a ir para casa da minha filha que está de férias e só vi muito fumo, mas pensava que era longe. Quando me aproximei vi muitas labaredas atrás da casa, desatei a gritar e a chorar. Tentei correr para lá, mas a GNR não me deixou", lembrou, em pranto, Ermelinda Vale.

Ao ver as chamas à porta, os moradores tentaram proteger os seus bens. E juntaram-se para levar uvas e garrafas de águas aos bombeiros. "Os heróis são eles e nós só temos é que os ajudar como podemos", disse uma mulher que caminhava em direcção às diversas corporações.

FOGO LEVA AO CORTE DE ESTRADAS EM VALONGO

Um incêndio de grandes proporções deflagrou ontem ao início da tarde no lugar da Quinta da Lousã, em Valongo. Durante toda a tarde as chamas não deram tréguas aos mais de 130 bombeiros que, incansáveis, tentavam impedir que o fogo se aproximasse das casas. Ao início da noite as estradas que dão acesso à freguesia foram cortadas e as várias corporações mantinham-se em alerta junto aos bairros habitacionais.

"Com este vento não temos mão no fogo, é um cenário monstruoso. Estamos a travar uma batalha desleal contra as chamas", disse ao CM um dos vários bombeiros que tentava apagar o incêndio.

O forte vento que se fazia sentir fez com que o incêndio lavrasse com cada vez mais intensidade durante a tarde. Ao fecho desta edição as chamas mantinham-se activas em várias frentes. O sentimento de impotência começava a pouco e pouco a instalar-se entre os bombeiros que, desesperados, não encontravam forma de controlar o fogo. "Não sabemos o que fazer mais, as chamas estão por todo o lado. Apagamos de um lado e aparecem logo do outro. Já tivemos que fugir duas ou três vezes, o fogo apanhou--nos desprevenidos", explicou um outro bombeiro.

Os moradores da freguesia tentaram ajudar as corporações com algumas mangueiras e baldes de água. Um homem que estava a ajudar no combate às chamas teve que ser transportado para o Hospital de S. João, no Porto, devido à inalação de fumo.

Fonte: Correio da Manhã