domingo, 8 de agosto de 2010

Prejuízos com fogos "vão ultrapassar" os 125 milhões


Pior dia de incêndios. Nove bombeiros e uma mulher ficaram feridos.

Ontem foi o pior dia de fogos, que voltaram a ultrapassar os 400, chegando a ameaçar povoações e obrigando à evacuação de 12 pessoas em S. Pedro do Sul. Só este incêndio, na Serra da Gralheira, provocou vários feridos e deixou 1,5 milhões de euros em madeira queimada. No País os fogos estão a deixar um rasto de destruição que irá ultrapassar os 125 milhões apurados nos incêndios do último Verão.

As chamas e um acidente na estrada provocaram também ferimentos ligeiros em nove bombeiros. Uma mulher que ajudava a combater o fogo em S. Pedro do Sul, que arde há vários dias, foi levada para o hospital com queimaduras de segundo grau.

Ao início da noite 20 grandes incêndios continuavam a queimar floresta. Os mais graves em Pombal, onde as chamas estavam a ser combatidas por 220 bombeiros e dois meios aéreos, e em S. Pedro do Sul com uma frente de mais de três quilómetros. Neste incêndio, que arde há já dois dias na Serra da Gralheira, estiveram mais de 200 bombeiros, dois helicópteros e dois aviões canadair espanhóis.

As chamas cercavam Vila de Santa Cruz da Trapa e Olheiro dos Lobos e 12 pessoas foram evacuadas em Bostarenga. Mas não evitaram que as chamas "consumissem uma mata, do Estado, já loteada e pronta a vender. Eram pinheiros adultos, de 40 anos, avaliados num milhão de euros" disse Luís Pereira, morador no Covelo.

Manuel Rodrigues, dirigente da Federação Nacional dos Baldios, alerta que este ano os fogos vão "deixar um prejuízo superior aos 129 milhões de euros estimados pelo Governo no ano passado". O dirigente frisa que as populações do interior "têm na floresta o sustento que acaba queimado, muito por culpa do Estado que dá o exemplo nas suas propriedades, que não são limpas".

Na Gralheira os moradores dão-lhes razão. "Venderam a casa do guarda-florestal mas foram incapazes de gastar aqui um cêntimo na limpeza das matas", conta Maria do Céu Lima.

Na serra a floresta "foi toda dizimada. Ficamos sem rendimento e vamos passar mal", alerta. Um enorme prejuízo mas que não é considerado pelo Estado.

Paulo Mateus, director nacional da Autoridade Florestal avalia "em 125 milhões de euros" os prejuízos directos na floresta dos incêndios no ano passado.

Os produtores garantem que esse número é bem maior. Hugo Jóia, do Fórum Florestal, que agrega toda a fileira da floresta, salienta que estes prejuízos "apenas são relativos à matéria-prima, tudo o resto é escamoteado".

Uma realidade não contabilizada e que faz com que a floresta portuguesa, que representa 38% do território nacional e 3,2% do PIB nacional, tenha cada vez menos valor. Desde o último Inventário Florestal, em 2006, que a floresta tem vindo a perder terreno.

De acordo com os dados da AFN a área ardida de 2005 a 2007 foi maioritariamente florestal. Pelo que aos custos dos meios de combate, avaliados este ano em 103 milhões de euros, há a somar o valor do material vegetal ardido, os prejuízos de natureza ecológica, casas, culturas e alfaias agrícolas destruídas.

Em S. Pedro do Sul parte do que está a arder é uma zona de reserva florestal, ainda primitiva e quase de características únicas de laurissilva. Um "prejuízo ambiental e que somado a todos os outros fará com este ano sejam ultrapassados os 125 milhões de euros de prejuízos", garante Hugo Jóia.

Fonte: DN